quinta-feira, 26 de junho de 2008

A condição humana

A pluridade humana, condição básica da acção e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da acção para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e idênticas.
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra. Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares.
Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A insociável sociabilidade dos homens


O meio que a natureza utiliza para levar a bom termo o desenvolvimento de todas as suas disposições é o seu antagonismo no interior da sociedade, na medida em que este é, no entanto, no final de contas, a causa de uma organização regular dessa sociedade. Entendo aqui por antagonismo a insociável sociabilidade dos homens, ou seja, a sua inclinação para entrar em sociedade, inclinação que é contudo acompanhada de uma repulsa geral a entrar em sociedade, que ameaça constantemente desagregá-la.
Immanuel Kant, in "Ideia de um História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita"

quarta-feira, 2 de abril de 2008


A necessidade da metafísica
A razão humana tem este destino singular, numa parte dos seus conhecimentos, de sucumbir ao peso de certas questões que não pode evitar. Com efeito, tais questões impõem-se à razão devido à sua mesma natureza, mas ela não pode responder-lhes porque de todo ultrapassam a sua capacidade. Não devemos contar que o espírito humano renuncie um dia por completo às indagações metafísicas: seria o mesmo que aguardar que, em vez de respirar sempre um ar viciado, suspendêssemos um belo dia a respiração. Por conseguinte, haverá sempre no mundo, ou, melhor, em todo homem, sobretudo se ele reflecte, uma metafísica, que, na ausência de uma norma comum, cada qual talhará a seu grado; ora o que até aqui se tem denominado metafísica não pode satisfazer nenhum espírito reflectido, mas renunciar a ela por completo é também impossível; é necessário, pois, empreender enfim uma crítica da razão pura em si, ou, se alguma existe, perscrutá-la e examiná-la em conjunto; na verdade, não há outro meio de satisfazer esta exigência imperiosa, que é coisa muito diferente de um simples desejo de saber.
Immanuel Kant in Prolegomenos

domingo, 23 de março de 2008

A ética do absurdo...Albert Camus



Albert Camus sob o sol, espectro do absurdo*.
O problema que Camus (*07 de novembro de 1913 +1960) constata na realidade da África de seu tempo e de sua época, se expandiu, de tal forma, que hoje não se pode mais olhá-lo como algo restrito a um contexto cultural. Deveras, que o homem da tardia contemporaneidade moderna rejeita a cada dia. A solidão e o desamparo, próprios de uma vida que se esvaiu ao longo do tempo e a mercê da sorte, fizeram do homem atual um ser do cotidiano sem transcendência. A mesma realidade fora percebida por Camus na Argélia. Em Núpcias, sua obra fundamental sobre os eflúvios do tempo perdido, retrata magistralmente o vazio e as ruínas encontradas no deserto das almas argelinas. Desse sentimento de vazio e de perda, contudo, enlameado de Sol, Camus perpassa toda sua obra com uma noção de “absurdo”, destacando, com isso, a paradoxalidade do mundo.
O absurdo camusiano, além de se mostrar em seu pensamento como contradição, ao excluir os juízos de valor, é metaforizado na vida de seus personagens mais importantes, tais como: Meursault, em O Estrangeiro; Jean-Baptista Clamence, em A Queda, Martha, em O Equívoco e Calígula, em Calígula. Todos esses são protagonistas do absurdo e da presença do Sol em suas vidas. Meursault, por sua vez, rejeitara toda forma de regra e de convenção que colocasse em risco sua liberdade. Estrangeiro por excelência, em um mundo fundamentado de moralismos, tivera, como sentença maior, sua perda de liberdade, contudo, não olvidara que sua desgraça só tivera ocorrido por causa da onipresença do Sol. Jean-Baptista Clamence, o juiz-penitente da humanidade em estado de culpa, tenta, a toda prova, purificar-se do tédio e da angústia vividos na selva do cotidiano, alardeando-se, assim que possível, de sua autonomia absoluta, como se fosse possível flanar indiferente nos cais do absurdo em que o outro se tornava presença marcante. Martha, “antiantígona” da filia, rebela-se deliberadamente contra todo tipo de mérito augusto da existência, principalmente diante de seu irmão pródigo que viera também a assassiná-lo. Demonstração da experiência existencial mais fidedigna e mais pura, Martha não se deixa enganar por nenhuma forma de contingência humana que justificasse algum tipo de privilégio. Sempre estivera atenta e fatigada com o peso da existência, mas, mesmo assim, nunca tivera a sorte de poder caminhar descalça numa praia ensolarada. Calígula, imperador da consciência humana, encontrara o Absurdo a partir do momento que experimentara a perda de seu grande amor incestuoso. César do inconformismo, Calígula não sabe se indignar, mas sabe se angustiar com a impossibilidade dos homens morrerem sem serem felizes. Em cada um desses protagonistas do Absurdo reina a ambigüidade da indiferença. Ao tempo que revelam um desejo incontrolável com a presença de outrem, rejeitam-no acintosamente como se pudessem viver isolados e imaculados de toda e qualquer culpa.
A moralidade camusiana, portanto, não se atêm às normas de conduta estabelecidas nem aditadas pela razão. Ela impõe-se no homem absurdo a partir do espontâneo. Haja vista, a atitude de Meursault, quando do assassinato e quando estivera na prisão. A de Jean-Baptista Clamence, quando flanara pelos cais do Sena; a de Martha, quando matara seus hóspedes e a de Calígula, quando assassinara Caesonia. A bem da verdade, esses protagonistas do Absurdo são imoralistas. Suas condutas não podem ser julgadas pelo crivo de nenhuma razão, assim como de nenhuma lei. Ora, o problema da morte de outrem se consolida como algo de absurdo porque a alteridade não está configurada em suas consciências. É tão-somente a noção de si que reina absoluta em todos eles, como fora demonstrado anteriormente.
Por conseguinte, só poder-se-ia reiterar essa questão da paradoxalidade do cotidiano na vida de seus personagens, porque o Absurdo e o Sol estão em contínuo conluio com a existência humana. Este último, como gerador prolífico do destino e aquele, como noção do entendimento do mundo.
Os limítrofes da existência se definem e aparecem pela luz do Sol. O que está configurado, antes e depois, só vai interessar aos que decidiram viver sob a égide da imaginação e da razão. Na imaginação, o outro é apenas um objeto virtual que pode ser mutilado, morto ou ressuscitado, como se o seu criador tivesse o poder absoluto sobre a vida. Distanciado, portanto, da experiência nevrálgica das inter-relações, o homem das manipulações existenciais permanece em seu casulo. Lugar, devidamente oportuno, da ausência de outrem. Porém, lugar de uma consciência que sente falta da presença. Aí, a culpa toma o lugar do outro.
A exigência de viver com experiências de outrora, fizera de Camus um homem de seu tempo, mas, sobretudo, um homem além de seu tempo. Sua vida tivera sido marcada pela experiência mística com o absoluto, assim como Orfeu, doravante não pudera mais suportar sua ausência. Contudo, como bem afirmara em O Mito de Sísifo, “Viver é fazer viver o absurdo. Fazer viver é antes de tudo olhá-lo. Ao contrário de Eurídice, o absurdo não morre apenas quando se olha para trás”. É preciso que se possa encará-lo no decorrer da existência para, igualmente, fazê-lo morrer. O virar-se orfíco cede lugar ao olhar de frente camusiano.
Profeta dos excluídos e dos revoltados, esse argelino estivera inteiramente embevecido pelo néctar da vida e pelo brilho do Sol, sua primeira e última instância metafísica. Nele, Camus projetou, além de sua vida, a vida de toda humanidade. Esta marcada pela Culpa tenta soerguer-se da queda edênica e recuperar-se da ausência do absoluto que, por conseqüência, engendra a ausência de outrem. Apesar de querer amainar essa dor incurável, Camus não mede esforços, como afirmara outro eminente interprete de seu pensamento, Morvan Lebesque, em colocar a humanidade no confessionário e esperar, como se viu em A Queda, que ela saia regenerada. Mas para que o homem redima-se, a si próprio e aos seus semelhantes, é necessário que a repetição de seus atos, desfigurados de ética, sejam substituídos pelo regret. Notadamente, o remorso impregnado na consciência o conduz a rever sua indiferença. Fora isso, ter-se-ia apenas um tipo de homem blazé. O Sol, portanto, intermediário da razão, pontifica o homem com sua humanidade, isto é, com sua natureza.
Ora, se porventura Camus pretendera mudar alguma coisa, teria sido a vida. Sua própria vida fora exemplo dessa mudança e desse soerguimento. Nada o houvera impedido de transpor as contingências que lhes foram impetradas. O mundo, por seu turno, não poderia ser mudado. A revolução, para Camus, deveria começar no próprio homem, ou seja, em sua própria vida. A revolução que poderia mudar o mundo houvera fracassado em meio a todas as tentativas ascendentes. Por isso, a configuração do mundo moderno apela por uma mudança, sim, mas que se inicie no seio de suas causas e não nos apanágios de suas absurdidades.
Em um mundo moderno em que a razão supera todas as expectativas da existência; em um mundo em que a ordem só pode ser entendida pelo prisma das ideologias; em um mundo em que as injustiças não são devidamente reparadas e em que a justiça é impotente, o absurdo se consolida e não encontra eco nas consciências. Ora, se a razão declarou, desde Descartes, que o real só pode ser compreendido se objetivado, a esfera do simbólico gira aleatoriamente sem poder firmar-se no mundo. A arte e a religião ocupam, portanto, a responsabilidade de interpretação, mas não de positividade com o real. Impera-se a “peste” da ignorância e os ratos, condutores da epidemia, inoculam, desde o início da propagação, o vírus da cegueira e da resignação. O primeiro destitui os homens de conhecimento, enquanto que o segundo, atira-os aos confins da vida celeste ou nos Jardins suspensos da Babilônia terrestre. Em A Peste, essa alegoria da alienação é descrita sem piedade, mostrando, inclusive, o estágio a que chegam os contaminados pela peste. As feridas expostas pela peste mostram o grau de ignorância de uma sociedade que não se preveniu deste tipo de mal, contudo, desolada e doente, não pode mais estar aberta aos contatos com o resto do mundo. O absurdo consolida-se como se fora irremediável. A clausura provocada pela epidemia definha, pouco a pouco, a dimensão cosmopolita de uma cidade. Fazem de seus cidadãos seres decaídos e miseráveis. A morte, por seu turno, mostra seu rosto através do desespero dos citadinos e tenta sobrepor-se à vida.
Frente a esse tipo de realidade, Camus percebera que viver era mais importante que morrer de peste. Suas contingências sociais (órfão de pai e educado por uma mãe analfabeta) e físicas (tuberculose quase sempre presente) não o impediram de continuar a viver como se estivesse sempre em boa forma. A vida, portanto, era-lhe infinitamente cara. Todavia, as formas de negação da vida deveriam ser extirpadas, porque, como afirmara, já em Núpcias: “[...] o que me nega nesta vida é, antes de tudo, o que me mata. Todas as coisas que exaltam a vida aumentam ao mesmo tempo seu sentido de absurdo”.
O seu “antiescatologismo” e anticlericalismo nunca foram demasiados nem colocaram em questão a presença do sagrado no mundo. De fato, seu ateísmo fora um dos mais genuínos testemunhos de Deus. Alguém que reconhecera e definira Deus como sendo a prova da mais pura inconseqüência e inumanidade, não pretendia, sob molde nenhum, “antropormofizá-Lo”. Com isso, Camus não vicejava reduzir a humanidade a Deus. Deus, instância plena, é Alguém irredutível a toda e qualquer forma humana, mas que só se pode admiti-Lo quando sua divindade toma assento no Gólgota na existência. Deliberadamente, sobre essa concepção, afiançara Camus: “Foi por invejar a nossa dor que Deus veio a morrer na Cruz. Esse estranho olhar que ainda não era o seu...”.
Camus não se importunara com a feição de um deus cruel nem caprichoso. Tanto mais se admitisse um deus dessa ordem, mais distante do humano o homem se encontraria. Ele queria, tão-somente, revelar a verdadeira face do humano no homem. Tampouco, não pretendia defender nem enaltecer a força imperiosa das ideologias que reduzem o homem à história. A única história verdadeira é aquela em que o homem escreve sua autonomia e independência nos anais de sua vida, contra tudo que o torna inumano. Por isso, o prazer da vida, segundo Camus, é a medida de se saber que é possível ser feliz. Desde que se tenha experimentado o gozo da vida a felicidade torna-se possível e pode ser mantida. A felicidade, não é, desse modo, o impedimento nem o abafamento da alegria que abriga a tênue flâmula da eternidade. Camus, frente à onda avassaladora da ocupação nazista em Paris, não perde tempo em denunciar essa peste que se propaga e faz de seus hospedeiros agentes de disseminação. Com efeito, a força imperiosa da peste substitui o esplendor do Sol. Ao sinalizar as intempéries desse mal que se torna, inclusive, o mal do Século XX, Camus, em A Peste, preconizou a ausência do Sol.
Em Camus, não há tergiversação do tema “Absurdo” e do “Sol”. Recorrentemente, pode-se encontrá-los em todas as suas obras. Não há nele uma evolução desses temas que, em determinado momento, adquirir-se-iam outra conotação. O Absurdo, quando não está presente e nomeado, aparece sub-repticiamente como se evocasse a saída de sua clausura. O Sol, quando não se mostra causador do destino, metaforiza-se em antônimos que fazem, obrigatoriamente, reocupar o seu lugar. Tanto um quanto outro, vociferam um tipo de entendimento da realidade que somente o conhecimento simbólico teria sustentação. Isso somente é possível porque Camus não pretende categorizar o real da existência. A experiência humana é traduzida, assim como os gregos fizeram antes da filosofia, na engendração dos mitos.
Contrariamente, agrilhoado e mercê do domínio do conhecimento, o homem tem se “dado conta”, que, mesmo em meio a todas as possibilidades de objetivação do real, algo permanece oculto e indecifrável. Porém, o conforto da falta da presença da totalidade do real é sentido pelo corpo humano que, além de suas sensações, também pode acolher o indescritível. Essa linguagem dos sentimentos, do tato, da dor ou da esperança, pode-se encontrar no mito. Camus, por sua vez, ao tratar de questões que se justificariam pela razão, utiliza-se da inteligência intuitiva que captura o real com dados provindos do corpo. A intermediação, portanto, como meio de ligação entre o concreto e o racional, tradicionalmente exercida pela filosofia, nem sempre encontra lugar no pensamento camusiano. Levando, inúmeras vezes, críticos de plantão, questionarem a sustentação filosófica de Camus perante elementos que requereriam uma categorização metafísica. Ao responder a essa indagação, Camus, em Núpcias, reitera-se: “Quanto a mim, não sei o que procuro, menciono a questão com prudência, desdigo-me, repito-me, avanço e recuo. Obrigam-me, ainda assim, a dar-lhe nomes determinados ou a defini-la uma vez por todas. Sempre que isso ocorre, irrito-me; aquilo que se define já não estará perdido? Eis, ao menos, o que posso tentar exprimir”.
O Absurdo camusiano, conquanto, revela-se à consciência mesmo sem poder ser decodificado. Assim, impõe-se como algo que contém uma sensação, diferentemente de uma elucubração. Ou seja, como um símbolo que, aparentemente, revela-se como algo absurdo e, muitas vezes, sendo visto como uma entidade malévola. Devendo, portanto, por causa de sua forma, ser aniquilado o seu conteúdo. Antepondo-se a esse tipo de reação, Camus percebe que na experiência do Absurdo algo deve ser modificado ou salvaguardado no mundo. A “heroicidade” do homem no mundo começaria com a atitude de total indignação com o que põe em risco a vida em querendo se substituir por algo irreal produzido pelo distanciamento do real. Com efeito, a implicação do homem no mundo é manifestada por uma atitude de aceitação e conformismo. Não há esquecimento da memória quando o conhecimento é fruto da experiência.
“A meio caminho entre a miséria e o Sol”, esse argelino não é mais francês, nem europeu; nem africano nem latino-americano. Seu porte literário e filosófico atinge os píncaros do conhecimento para toda a humanidade. Esse Prometeu da atualidade revigora as estações primaveris do cotidiano e revela a potencialidade humana como, talvez, nenhum dito existencialista tenha tido a coragem de fazer.
Há 90 anos, no Magrebe, nascia um dos maiores intelectuais do Século XX, todavia, o destino trágico se manifestara no dia 04 de janeiro de 1960 consolidando o maior de todos os absurdos: ceifar a vida de Camus num acidente de carro. Em seu bolso fora encontrado um bilhete de trem sem uso, para o mesmo trajeto.

*Artigo publicado no jornal A Tarde de 08 de novembro de 2003, por Lorenço Leite, professor de filosofia da UFBa.

quinta-feira, 20 de março de 2008


Todos os esforços para estetizar a política convergem para um ponto. Esse ponto é a guerra. A guerra e somente a guerra permite dar um objectivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes. Eis como o fenómeno pode ser formulado do ponto de vista político. Do ponto de vista técnico, a sua formulação é a seguinte: somente a guerra permite mobilizar na sua totalidade os meios técnicos do presente, preservando as actuais relações de produção. É óbvio que a apoteose fascista da guerra não recorre a esse argumento. Mas seria instrutivo lançar os olhos sobre a maneira como ela é formulada. No seu manifesto sobre a guerra colonial da Etiópia, diz Marinetti: «Há vinte e sete anos, nós futuristas contestamos a afirmação de que a guerra é antiestética (...) Por isso, dizemos: (...) a guerra é bela, porque graças às máscaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela, porque conjuga numa sinfonia os tiros de fuzil, os canhoneiros, as pausas entre duas batalhas, os perfumes e os odores de decomposição. A guerra é bela, porque cria novas arquitecturas, como a dos grandes tanques, dos esquadrões aéreos em formação geométrica, das espirais de fumo pairando sobre as aldeias incendiadas, e muitas outras (...) Poetas e artistas do futurismo (...) lembrai-vos desses princípios de uma estética de guerra, para que eles iluminem a vossa luta por uma nova poesia e uma nova escultura!
Esse manifesto tem o mérito da clareza. A sua maneira de colocar o problema merece ser transposta da literatura para a dialética. Segundo ele, a estética da guerra moderna apresenta-se do seguinte modo: como a utilização natural das forças produtivas é bloqueada pelas relações de propriedade, a intensificação dos recursos técnicos, dos ritmos e das fontes de energia exige uma utilização antinatural. Essa utilização é encontrada na guerra, que prova com as suas devastações que a sociedade não estava suficientemente madura para fazer da técnica o seu órgão, e que a técnica não estava suficientemente avançada para controlar as forças elementares da sociedade. Nos seus traços mais cruéis, a guerra imperialista é determinada pela discrepância entre os poderosos meios de produção e a sua utilização insuficiente no processo produtivo, ou seja, pelo desemprego e pela falta de mercados. Essa guerra é uma revolta da técnica, que cobra em «material humano» o que lhe foi negado pela sociedade.

Walter Benjamin, in 'Magia e Técnica, Arte e Política'

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Spinoza


" Os homens se enganam quando se julgam livres: e o motivo desta opinião é que têm consciencia de suas ações, pórem ignoram as causas por que são elas determinadas; por conseguinte, o que constitue a idéia de liberdadeé justamente não conhecerem cousa alguma de suas ações. Dizem que as ações humanas dependem da vontade, mas estas são palavras que não possuem nenhuma idéia, porque todos ignoram o que é a vomntade e como podem mover o corpo"Spinoza


Zwei, Arnold. O Pensamento Vivo de Spinoza. Livraria Martins. São Paulo.
Até mais,
Maíra Motta

domingo, 5 de agosto de 2007

Immanuel Kant



"O Iluminismo significa a saída do homem de sua menoridade, da qual o culpado é ele próprio. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude!"
Immanuel Kant

Galileu Galilei


" Está instaurada a dúvida.
A metódica dúvida epistemológica.
Neste mundo a terra não está no centro
nenhum saber é saber completo.
Seja bem-vinda era da razão.
Não há que se temer a revisão.
Nada que se diga ou que foi dito
merece estatuto de dogma irrestrito.
Cuidado com a verdade
que se pretende
maior que a realidade,
pois, os fatos são os fatos
e fluem diante de nós
que estupefatos
assistimos ao espetáculo. "
Galileu Galilei
Até mais!
Maíra Motta

O que é filosofia?

"A filosofia é um bom conselho"
Sêneca
"A filosofia é o melhor remédio para a mente"
Cícero
" Temos na filosofia uma medicina muito agradável, pois, nas outras, sentimos o bem-estar apenas depois da cura; esta faz bem e cura ao mesmo tempo. "
Montaigne
"Meditar, em filosofia, é encaminharmo-nos do conhecido para o desconhecido, e aqui defrontar o real."
Paul Valéry
"Toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida, ajudantes do seu crescimento ou bálsamo dos combates: postulam sempre sofrimento e sofredores"
Nietzsche
"A admiração é própria da natureza do filósofo; e a filosofia deriva apenas da estupefacção."
Platão
"A filosofia que cultivo não é nem tão bárbara nem tão inacessível que rejeite as paixões; pelo contrário é só nelas que reside a doçura e felicidade da vida."
Descartes
"O primeiro raciocínio do homem é de natureza sensitiva...: os nossos primeiros mestres de filosofia são os nossos pés, as nossas mãos, os nossos olhos."
Rousseau
"Só conheço uma liberdade, e essa é a liberdade do pensamento."
Saint-Exupéry

Até mais!
Maíra Motta